terça-feira, 29 de dezembro de 2009

AGUENTA, CORAÇÃO!


O cineasta Fábio Barreto enfrenta atualmente dois dramas. Um, real e pessoal, pois há vários dias está internado em estado grave no Rio de Janeiro, em consequência de um acidente de carro; na telona, acabou de dirigir ”Lula, o filho do Brasil”, cujo lançamento nacional está previsto para o dia 1º de janeiro. Aguardadíssimo, o filme é um dramalhão. Conta a história do presidente Lula, filho de Aristides, um alcoólatra violento e cafajeste, que vem a conhecer o filho quando este já estava com três anos de idade. Coube à Lindu, a mãe, a barra de criar sozinha sete filhos. Quando reaparece, Aristides fica em casa apenas uma semana. Resolve ir embora para São Paulo e leva consigo um dos filhos. Este, cansado de maus tratos, escreve uma carta à mãe, fazendo-se passar pelo pai, e chama a família para morar em Santos. Lindu, a mãe, vende tudo e embarca para lá com os filhos. Chegando, descobre que Aristides vive com outra mulher. É um drama caro. Aliás, um dos mais caros do cinema nacional. Segundo a imprensa os custos giraram em torno de 16 ou 12 milhões de reais. Dizem que esse dinheiro não saiu de nossos bolsos. Ok, mas tem entre seus patrocinadores a má falada “Camargo Corrêa”, por exemplo. Tem também o patrocínio de um milhão de reais saído das mãos daquele sujeito que atende pelo nome de Eike Batista. Enfim, “Lula, o filho do Brasil” parece ter sido feito para arrancar lágrimas de muita gente. Vai bombar!

CINEMA ELITISTA?


Aliás, o valor dos ingressos para cinema em Cuiabá está bastante salgado, para esta que pode ser considerada uma forma de lazer popular. Apesar disso, o público aumentou consideravelmente este ano, segundo pesquisas. E as expectativas para o próximo ano são animadores. Daí, concluo que o brasileiro é, sobretudo, um forte!

UMA ESMOLINHA...


O Vale Cultura é uma iniciativa do governo federal que vem no rastro do vale transporte e vale refeição. Prevendo beneficiar 116 milhões de trabalhadores das classes C e D, o vale será no valor de R$ 50,00, a ser adquirido pelas empresas, que o distribuirão a esse segmento de seus trabalhadores, sem nenhum desconto no salário, para que estes adquiriam livros, CDs, dvs, além de comprar ingressos para teatros, shows e cinemas. Parece, à primeira vista, algo interessante, pois o acesso aos bens culturais neste país é restrito a uma elite. No entanto, R$ 50,00 é um valor ínfimo, em se tratando da indústria cultural. Melhor seria uma política de salários dignos e justiça social. Pensem no valor de um livro ou num show de Caetano Veloso, por exemplo. Aquecerá o mercado cultural, sem dúvida, mas o que isso representará para a população? Sei não, mas isso tem cheiro de esmola!

E A DECORAÇÃO DE NATAL, HEIM?


Não sei quem fez, mas a decoração de Natal da cidade de Cuiabá tem, certamente, seus méritos: o baixo custo, a tentativa de reciclagem e a busca de uma identidade regional. No entanto, o resultado obtido foi desastroso. Ficou muito ruim, vocês não concordam? O que são aquelas caixas cobertas por chitão? Vista de longe, à noite, causa até um efeito bonito, mas quando se chega perto, vem a decepção. A sensação que dá é de miséria, falta de inspiração e inventividade.

JOÃO SEBASTIÃO

Esta semana visitei meu amigo João Sebastião da Costa, que eu não via há mais ou menos dois anos. Rever o artista plástico que trouxe para as artes os cajus e as onças, transformando-os em símbolos caros para a iconografia mato-grossense, é sempre um prazer, uma alegria. Dedicado e disciplinado, João trabalha incansavelmente horas e horas, diariamente. É um exercício quase ritualístico, religioso. Apesar de passar a maior parte do tempo em seu ateliê, no bairro Consil, João tem olhos aguçados, críticos, e acompanha tudo o que se passa na sua cidade, que tanto ama e respeita. Se indigna e vibra com os fatos. Nada escapa ao seu olhar e à sua análise. Vida longa ao João Sebastião!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

TEATRO DA UFMT: VÁ ENTENDER

Inaugurado há quase 30 anos, o Teatro da UFMT vem enfrentando um lamentável processo de sucateamento nos últimos anos. São problemas básicos e emergenciais, como: refletores queimados, banheiros estragados, poltronas idem, instalações elétricas avariadas. Com 506 lugares, estava virando abrigo de gambás e morcegos. Ainda assim, dizem, não estava entre as prioridades da UFMT, o que causou um desconforto entre os artistas e a nova gestão da instituição. Mas agora esse astral começa a mudar. A Magnífica Maria Lúcia Cavalli Neder declarou recentemente que o TU será interditado para reforma no primeiro semestre do próximo ano. Vencida essa etapa, ainda resta mais uma luta a ser empreendida pelos artistas: que o Teatro cumpra a sua verdadeira função, enquanto sala de espetáculos, pois sua agenda está constantemente lotada com formaturas, palestras, seminários, congressos, diplomações de políticos, assembléias de sindicatos e afins. Quando sobra pauta, rola alguma apresentação artística. Dá pra entender?

FOI MAL

A vida é assim: tem gente que, de repente, pira. Foi mais ou menos isso o que aconteceu com a escritora e apresentadora do GNT, Fernanda Young. A diferença é que ela já é pirada há muito tempo e agora teve outro surto: decidiu posar para a revista Playboy, reduto das famosas coelhinhas. Longe da estética certinha de suas antecessoras, Fernanda tem uma estética mais “alternativa”. Seu corpo é repleto de tatuagens. Querem saber se o corpo dela é malhado, ou se ela usa silicone? Não sei informar-lhes. Não li a revista e nem pretendo, por motivos óbvios. E parece que essa que pode ser considerada uma das mais antigas formas de adorno da humanidade, não agrada muito ao gosto masculino. Os editores, claro, negam, mas dizem os especialistas que a revista encalhou nas bancas, apesar da beleza das suas tatoos. Para o nosso deleite, Fernanda terá mais tempo agora para se dedicar à literatura, de onde, aliás, não deveria nunca ter saído.

VOCÊ É UM PIRATA?

A gente já não tem muitos motivos pra ir ao cinema: medo de assalto, trânsito caótico, falta de vagas nos estacionamentos, o custo pouco amigável dos ingressos e a má qualidade da programação dos cinemas da cidade. E pra dar ainda mais uma forcinha, surge agora uma suposta campanha contra a Rede Cinemais, que funciona no Pantanal Shopping. Estão veiculando e-mails “informando” que há uma onda de assaltos no interior de suas salas de exibição. É por essas e outras que muita gente prefere ficar em casa assistindo DVDs. DVDs piratas, quase sempre. Afinal, com a onda de pirataria, muitas locadoras de vídeos faliram. Os piratas estão em todos os lugares, inclusive dentro de muitas casas. Com apenas um clique, qualquer pacato cidadão pode baixar jogos, filmes, músicas e programas. E mais: torna-se um pirata digital, mesmo quando digitaliza um CD comprado na loja. É ilegal? É!Mas, você resiste?

QUE DROGA!

Artista sofre! Júlio Carcará empreende uma luta de muitos anos para implantar um circo-escola, na Praça Chico Jacaré, localizada no bairro Lixeira. Sua idéia foi, finalmente, contemplada com recursos do governo federal para instalar no local um “Ponto de Cultura”. A comunidade vibra por esse motivo. No entanto, enfrenta a resistência de meia dúzia de moradores do entorno que, equivocados, acham que o projeto pode trazer desvalorização aos seus imóveis. A pergunta que fica é: e o que pensam a respeito da subutilização da praça por marginais? Assim como a maioria dos bairros de Cuiabá o Lixeira também vem sendo tomado pelas drogas, enfrentando sozinho todas as conseqüências nocivas que elas trazem. Essa gente precisa pensar e deixar o Júlio trabalhar. É o milenar preconceito contra o circo...

ALMA DE LA LUNA

Um colírio para os nossos olhos fatigados: a arte de Almerinda Ferraz. A história da dança em Mato Grosso passa por ela, que foi uma das primeiras proprietárias de academia de dança em nosso Estado, influenciando muitos artistas. Almerinda respira dança. Dança com o corpo e com a alma. Por isso é chamada também de “Alma de la luna”!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

LUA NEM TÃO NOVA ASSIM...


Tio tem dessas coisas! Para agradar uma sobrinha uma, levei-a ao cinema para assistir "Lua Nova". Nunca me passou pela cabeça um dia assistir à adaptação para o cinema de mais uma obra da escritora vampiristica Stephanie Meyer. Fiz uma vistas grossas "Crepúsculo", mas dizem que este, feito de forma independente, foi ainda pior que o segundo. Fico, então, pensando como é que foi, apesar da febre que se Tornou mundialmente.



O filme resgata dois mitos antigos da história da humanidade: os vampiros e os lobisomens, dando a eles um contexto contemporâneo. E é em torno deles que gira a vida da mocinha, uma adolescente aparentemente normal. O que a diferencia das demais meninas de sua idade é o fato dela não se interessar pelos garotos "normais" que um rodeiam. Bella Swan tem uma queda por seres fantásticos e vive um triângulo amoroso com um vampiro e um lobisomem.



As histórias de lobisomem que ouço aqui no bairro Lixeira são bem mais emocionantes que as contadas por Stephanie Meyer. Tudo bem que o suspeito de se transformar na figura horrenda nem ao menos se aproxima da estética do ator Taylor Lautner, mas ainda assim é mais emocionante. É gratuito!




ALÔ, INTERCÂMBIO



Quem teve propostas Aprovadas pelo Edital de Intercâmbio da Secretaria de Estado de Cultura vive uma sensação de quem ganhou e não levou. Explico: poucos são os que algumas conseguiram realizar apresentações, para citarmos uma das Modalidades Atingidas pelo edital tal. Os ofícios chegam ao órgão solicitando determinado espetáculo eo órgão não responde. Foi o que aconteceu comigo, por duas vezes já. Da segunda vez, liguei para saber o que estava ocorrendo e fui orientado a ligar para a Ana Moreira, chefe do setor. Seguiu-se, papo, então este, curto e grosso, como poderão conferir:

- Alô ...

- Oi, Ana. É Ivan Belém, tudo bem?

- Tudo!

- Ana, é o seguinte: Tem um ofício de uma universidade pedindo um espetáculo meu para amanhã, preciso saber se vocês autorizaram ...

- Não! Tum-tum-tum

- Alô, Ana ...

- ...

E assim encerrou-se o nosso papo. Será que a Ana desligou o telefone na minha cara? Tenho uma leve impressão que sim. Liguei de volta e estava desligado. Deixei recado com uma funcionária, pedindo que me retornasse e lá se vão quase 15 dias e estou aguardando até hoje.

Pô, Ana, qualé?!


LEILA LOPES, A TRÁGICA

A indústria cultural é cruel. Falando sobre os artistas como se estes não tivessem alma. Todos da engrenagem que Participam São Considerados produtos. Apenas isso. E, no caso dos artistas, esse produto tem que ser, preferencialmente, magro, branco e bonito, de acordo com os Padrões europeus. E assim a massa, formada pela gente comum, não se vê na TV. Aos 40 anos os artistas são velhos e São Considerados "encostados". Mas sobrevive quem tem talento. Estes suas carreiras podem continuar em outras frentes, como o teatro eo cinema. Quem tem talento e não mercado nenhum sobreviveu graças à juventude e beleza, sofre o abandono na maturidade. Sem perspectivas, longe da fama, alguns artistas se renderam à indústria pornográfica. Esta também cruel, como toda indústria. Apesar disso, freqüentemente há alguém passando para o lado de lá. O caso mais emblemático é o de Leila Lopes Falecida, recentemente. Atriz mediana, marcou a carreira como uma professorinha dócil em uma das novelas globais. Atingir Após os 40 anos aproximadamente novelas deixou de fazer. Estava velha para uma indústria cultural. Mendigou papéis aqui e ali, sem Êxito algum. Habituada aos holofotes, ao glamour, recusou-se a entrar para uma extensa lista dos esquecidos e anônimos. Escondeu a idade, mas o rosto deformado pelo silicone uma situação piorava. Agora, aos 50 anos de idade, já em seu terceiro filme pornô, Leila Lopes decidiu sair de cena. Saiu tragicamente, entrou como assim!assim!

sábado, 28 de novembro de 2009

Tem Gato no Saco - by Luiz Carlos Ribeiro





No dia 15 de novembro último domingo, o Grupo Alma de Gato brindou o seu público no teatro do SESC Arsenal, com duas sessões, ingressos esgotados, com o espetáculo intitulado: Tem Gato no Saco.

Grupo musical formado por vozes masculinas, criado em 2005, cantam uma capela, e, ano após ano, só não aprimoram na técnica vocal, como também nas performances cênicas em seus espetáculos dando a estes um toque de humor, irreverência e qualidade artística das melhores nenhum gênero.

Exigente na escolha de um repertório, que prima pelo refinamento e pelo bom gosto das músicas escolhidas e pela afinação do espetáculo como um todo, o grupo vem formando e conquistando um publico que acompanha, fascinado, a sua trajetória.

Tem Gato no Saco da Mediocridade nos redime, do ridículo, da inversão de valores artísticos, que Mergulha este país, com aquiescência e Estimulo, é claro, da mídia nacional, dos órgãos oficiais e não oficiais, que usam das verbas públicas e privadas para outros fins, ou patrocínios de trabalhos de qualidade duvidosa.

Torna-se propício, neste momento, parafrasear o humorista Jô Soares, que num dos seus programas humorísticos disse o seguinte: "A cultura deste pais bunda pra subiu e desceu para os pés", ou seja, se você não é jogador de futebol ou não mostrar a bunda siliconada na televisão, você não tem vez em nosso cenário artístico.

Mas graça ao talento artístico deste grupo, os seus integrantes não PRECISAM usar destes subterfúgios para terem o respeito eo aplauso dos seus admiradores. São dotados, e como (!) Do mais puro talento / arte, Contraponto fulminante à mediocridade televisiva e folclorizada da nossa mídia nacional.

Na direção do espetáculo encontramos dois mestres, integrantes do naipe de vozes que compõe o octeto. Assina a direção artística e regência, o maestro Jefferson Neves, enquanto que uma direção cênica e roteiro ficam sob uma responsabilidade do artista multimídia Gilberto Nasser, o Gil.

Emolduram uma cena, com suas potentes vozes masculinas, formada por tenores, barítono e baixo: Sidnei Nogueira, Nicolas Rosato, Marcos Ardevino, Jefferson Valle, Evaldo Sampaio Jr, Renato Marçal Jefferson Neves e Gilberto Nasser, que completa o octeto.

A interferência performática dos esquetes encenada tem como tônica uma irreverência, que satirizam o comportamento, o modus vivendi de uma sociedade mergulhada medo nenhum do seu próprio niilismo.

Essas ações performáticas aproximam do gênero vaudeville meio usada pelos Circos que nos visitavam até meados da década de 70, com verossimilhança da reeditoração burlesco de um gênero popular, ...

Linguagem e do nosso Teatro Circo, tão bem reeditado pelo saudoso mestre do teatro e do cinema brasileiro Carlos Alberto Sofredini - leia-se "Hoje é Dia de Maria" - costura o tiro certeiro, ou seja, o riso solto, franco, sem final de cada frase do texto interpretado, testado copiosamente.

O resultado são os aplausos espontâneos da platéia. É a gloria do palhaço!

O tratamento corporal e gestual dos atores / cantores em cena é repleto de significados / significantes, esculpidos nos métodos da arte de representar, criados pelos mestres: Augusto Boal, Viola Spolin e outros, onde se percebe nitidamente uma triangulação entre atores / platéia, esta O vértice da pirâmide.

A metamorfose dos atores / cantores em cena acontece, Através de códigos, posturas gestuais, sem Necessidade de recorrer uma artifícios de adereços e / ou objetos cênicos para composição das personagens da ânima; São Atores em Metamorfoses, sem precisar recorrer uma das clichês ou estereótipos televisadas escolinhas.

No inicio do espetáculo, tem-se uma impressão de uma cantata, com uma execução do primeiro número musical Agnus Dei, de Michael W. Smith, arranjos de Jefferson Neves / Gilberto Nasser; mas não, é apenas um pré texto para uma seqüência de performances teatrais, um exemplo, um desobesessão, interpretada por Gilberto Nasser, Renato Marçal e Evaldo Sampaio, que parodiam as representações dos pastores burlescas / impostores, das igrejas "Universais da Cosmogonia Sideral do Renascer", a CAIXA II da Pilantragem, e dinheiro dos Recolhidos Pobres dos Dízimos, Incautos, Fiéis e assíduos. Hilariante!

Bem, a partir daí uma Reverência é totalmente abolida para dar entrada em cena uma irreverência. Não uma baixaria tão em voga na cena mato-grossense - (e nacional), mas o absurdo, (enquanto gênero cênico), aliado ao bom gosto musical. Um verdadeiro intermezzo, compartilhado entre os textos e as músicas cantadas pelo grupo.

A partir daí, os gatos e gatões da cena Tomam conta: cantam, dançam, interpretam e textos transformam o espetáculo, como um todo, numa verdadeira carnavalização baketiana, anárquica, absurda, porem de estremo bom gosto. Um primor!

A prova dessa competência fica explicita com o tratamento que dão ao repertório trash, brega. É prato cheio para o deboche, uma paródia, uma sátira irreverente dos atores / cantores que usam os códigos e posturas Próprios sígnicas e gestuais, Criadas pelos autores dessas "irrelevantes" peças musicais, e que, servem de matéria prima para uma reeditoração cênica -- musical dos integrantes do grupo.

Complementa o visual descolado um figurino, criado por Renato Marçal e Mara Domingos, que, a meu ver, foram buscar inspiração nas plumagens de coloração cinza ardósia do Pássaro Alma-de - Gato para composição das matizes do figurino do elenco.

Este bonito figurino atemporal, leve, suavemente colorido, tudo nos conformes, que nos lembra os palácios pijamas, usados nos anos 70/80, pelas divas do cinema italiano: La Loren, Silvana Mangano, Rosana Podestá, Ivone Di Carlo, esta última , minha prima adotiva.

Tudo isso valorizado por um cenário e uma iluminação rebuscada de muito bom gosto estético. Prova absoluta da competência profissional dos integrantes do grupo e dos profissionais e técnicos que lhe proporciona assessoria.

Apenas uma ressalva: vi, ouvi, Aplaudi todos os gatos, mas não vi nenhum saco.

* Revisão de texto: Lúcia Palma


PS: A foto Ivan roubou do Orkut do Gilberto

Ganhamos um espaço cultural



Dentre as inúmeras iniciativas em celebração ao Dia Nacional da Cultura, uma delas sem dúvida foi especial para Mato Grosso: a inauguração, pelo TCE, do Espaço Cultural Liu Arruda, uma merecida homenagem ao polêmico humorista. Foi uma noite linda e emocionante, repleta de artistas no palco. Eu interpretei um lindo texto do Gilberto Nasser, que tomo a liberdade de publicar aqui.



“O artista é um iluminado por natureza. Por isso, quando ele parte, vira luz no firmamento e o seu brilho é eterno. Sua herança não é o dinheiro, mas a sua própria obra de vida. Em vida, a função do artista é sensibilizar. Limitado pelas paredes do teatro, o artista transcende e faz desta caixa mágica um mundo sem limites, onde ele conta história, vive vidas e morre um pouco por cada personagem. Não é o artista que sonha. Ele faz o público sonhar. O artista alimenta o espírito humano e trabalha ao extremo as nossas sensações. O grande barato do artista é impressionar. Por isso o espetáculo não acontece sozinho. O artista precisa do sonho do público para tornar sua obra realidade. Essa relação entre palco e platéia é apaixonante e mais poderosa e explosiva que a força nuclear de um átomo. A arte é testemunha da evolução humana e a humanidade, através da arte, vai contando sua história. Liu Arruda foi testemunha de um tempo curto e precioso da nossa gente. Liu fez história e revolução. Seu talento foi suficiente para vencer as barreiras regionais e conquistar o Brasil, mas ele preferiu ficar aqui e ser o astro na sua própria terra. Hoje, encantado como todo ser de luz, ele deve estar de camarote, lá em cima, espiando a gente. E deve estar dizendo: - Puta que pariu, São Pedro! Olha só o que eu estou perdendo lá em baixo. E São Pedro, com a barba arrepiada, deve ter dito: - Seu Liu Arruda, aqui em cima não pode falar palavrão. No que Liu deve ter retrucado com o santo: - Agora o que é que é esse, São Pedro?! E desde quando que ‘puta que pariu’ é palavrão? São três palavrinhas tão pequenininhas: “puta”, “que” e “pariu”... Tão pequenininhas! Palavrão, São Pedro, o senhor precisa ir, lá em baixo, pra ver: miséria, violência, injustiça, sacanagem. Isso sim é que é palavrão. Na frente dessas coisas, ‘puta que pariu é refresco’, como dizia minha comadre Nhára e meu compadre Juca. Como não! E por falar nisso, espia ela chegando refestelada com a turma toda...”

Um cantinho cuiabano em Sinop



Estive poucas e inesquecíveis vezes no norte de Mato Grosso. Fui à Juína uma vez, gravar uma pequena participação num filme de Hermano Penna. Viagem longa, tensa, num avião de pequeno porte, que sacolejava indescritivelmente. Voltei pra casa, lembro-me bem, com o coração na mão, num dia 21 de março, data de meu aniversário. Enquanto olhava aquela imensidão de mata com o avião sacolejando, pedia aos deuses e às deusas pra não deixar-me morrer no dia do meu aniversário. E muito menos ter o meu corpo atirado àquela imensidão de floresta. Percebi que, se isso ocorresse, jamais localizariam meus restos mortais. Felizmente, como vêem, cheguei com vida.


Da outra vez, fui à Alta Floresta, com Liu Arruda, apresentar um espetáculo. Bati os pés e fui de ônibus. “Seguro morreu de velho”. Meu medo era acontecer comigo o que aconteceu com Leila Diniz. Uma diferença, sutil diga-se, era que ela estava a caminho das Índias e eu de Alta Floresta. No entanto, corri outro risco: chegando ao hotel (lindo, ao redor de uma vasta e misteriosa mata), avisto da janela do quarto um macaco. Comentei com um dos funcionários e este me alertou que recentemente um deles pegou uma faca e correu atrás de um hóspede. Pronto, tranquei tudo e só saí depois que nossa equipe chegou.


Lá se vão doze anos. Retornei no último dia 02 de outubro, quando fizemos (eu e Antonieta Costa) uma apresentação na “Peixaria Boipá”, de Gleison Figueiredo. Fomos por via terrestre, naturalmente!


Gleison Figueiredo, pra quem não sabe, é um cuiabano apaixonado por Cuiabá. Atualmente morando em Sinop, abriu esse restaurante que é um delicioso cantinho cuiabano nesse imenso nortão mato-grossense.

domingo, 4 de outubro de 2009

Gracias, Mercedes!

Gracias, Mercedes Sosa, pela sua bela e inesquecível voz, símbolo de luta e resistência, que embalou tantas gerações! Gracias, por ter cantado a liberdade, a vida!!!

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Síndrome de Coisa Ruim - by Comadre Creonice




Vou falar uma coisa procês: eu posso não ser entendida de pintura como minha comadre Aline Figueiredo... Essa sim é digoreste, entende pra catiça desses negócios. Mas também não sou igual aquela mulher que uma vez procurou Gervane de Paula e queria um quadro que combinasse com o sofá dela. Não sou dessas, não. Sou daquelas... Êah, mas porque mesmo estou falando disso? Ah, sim, é por estar pasma com a malvadeza feita à Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, no Museu do Louvre, em Paris. Vocês souberam? Uma turista russa jogou uma caneca de cerâmica contra a pobrezinha. Felizmente a velhinha não sofreu nenhum dano, pois está protegida por um vidro à prova de bala. Só assim pra Siá Gioconda, como ela é apelidada, agüentar o tranco. Ela é uma velha muito velha, tem quase a idade do Brasil. Da Vinci começou a pintá-la em 1503 e foi terminar por volta de dois anos depois. E ela sempre com o mesmo sorriso... Não perdeu nenhum dente até hoje.


A turista que fez a malvadeza deve ser rica, pois não foi considerada vândala. Chamaram o médico e, segundo ele, a criminosa deve estar com uma tal de Síndrome de Sthendal, doença rara que faz com que algumas pessoas fiquem gira de uma hora pra outra e ataquem obras de arte. Quá, cada doença que aparece!


Já ando preocupada com o surgimento de tanta doençaiada, e agora mais essa... Isso me deixa preocupada com algumas pessoas de Cuiabá, entre elas amigos meus, que mais se parecem uma obra de arte ambulante. Vai que encontram algum Sthendal por aí... Cruz credo!E olha, sis crianças, podem tirar seus cavalos da chuva, pois não vou citar nome de seu ninguém. Vocês sabem muito bem de quem estou falando... Raciocinem comigo – opa, comigo não! Raciocinem sozinhos. Vocês têm cabeça pra quê?


A russa diz que tem Síndrome de Sthendal, por isso quis danificar Siá Mona Lisa, mas e quem sai por aí dando veneno para os pombos da Praça Alencastro... Esses têm o quê, Síndrome de Coisa Ruim??? Isso dá cadeia! Os motoristas de táxi já não agüentam mais recolher pombos mortos todos os dias. Se estão incomodados com os bichinhos, chamem as autoridades. Ou nesta cidade não tem autoridade?

Estou aqui defendendo Siá Mona Lisa e os pombos da Praça Alencastro e já ia me esquecendo de defender Cuiabá. Nossa cidade também é outra vítima de ataques absurdos, principalmente na Internet. Esses dias me falaram que tem um site detonando Cuiabá e os cuiabanos. Entrei lá pra ver e quase tive um siricotico. Cada piada de mal gosto... Até uma amiga minha entrou na dança, coitada... Nem me lembro o nome do site, não adianta me cutucar. Sei que segue a linha do tal de Wikipédia: qualquer um chega e vai escrevendo o que quer e anonimamente. É uma versão anarquista, me disseram. Ruuummm...Anarquista, meu cesso! Vou fazer que nem aquela candidata a deputada, falando para os adversários: “Querem meter pau? Metam pela frente, cambada de veaaaaaadoooooo”!

Creonice Belém do Pará se deu muito mal como produtora de soja e, à falta de melhores opções, resolveu ser cronista e atriz, seguindo os passos de Ivan Belém, seu primo em segundo grau.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Teatro da UFMT: ai, que vergonha - by Creonice Belém do Pará



Eu me lembro como se fosse hoje, o dia da inauguração do Teatro Universitário. Tem quase 30 anos. A estréia foi com pompa e circunstância. O povo todo chique. Eu também fui chique, não sou besta. Foi até Gigliolla, do Salão Sol Vermelho, que me maquiou e fez meu penteado. Eu fui com um vestido de tafetá abobora, feito por dona Sônia Gama. Lindo. A estréia foi com a peça Manucaima, de Antunes Filho. Primeira vez que vi teatro com gente de fora. Até então eu só via teatro com povo daqui: Luiz Ribeiro, Glorinha Albuês, Amaury Tangará, Meire Pedroso, Mara Ferraz, Liu Arruda, Ivan Belém, Epifânia Arruda. Eu gostava (aliás, ainda gosto) de ver o teatro deles, mas eles não tiram a roupa. Só Meire Pedroso que uma vez tirou a roupa em cena. Ah, mas o que quero eu ver mulher nua? Em Macunaíma o povo todo ficava nu.




Tônia Carreiro também veio. Ela pode não ser lá muito talentosa, mas que é bem bonita, ah isso ela é. Ou era né?. Porque isso já tem quase 30 anos e essa mulher sumiu. Acho que está fazendo igual Greta Garbo: não sai mais de casa depois que ficou velha de vez. Mas, verdade seja dita, ela falou bonito na noite de inauguração: elogiou a UFMT pela iniciativa de construir um teatro e criticou as universidades brasileiras, sempre frias e insensíveis à cultura.




Eu sei dizer que por muito tempo o Teatro Universitário foi nosso motivo de orgulho. E era um orgulho não somente para nós mato-grossenses, mas para todo o Brasil. Os cuiabanos, então, ficavam bem tocêra... Mas vocês sabem: alegria de pobre dura pouco. Com o tempo, só vinham peças porcarias, entulho, que ninguém no Rio de Janeiro e em São Paulo queria ver. Os bestas iam todos aplaudir. Cambada de bobó tchera-tchera. Os tais artistas saíam com o bolso cheio de dinheiro e rindo da nossa cara. Isso quando havia peça de teatro, porque a agenda de lá estava sempre lotada com formatura, palestra, seminário, congresso, diplomação de políticos, assembléia de sindicatos e o escambau. Menos com teatro.




E ainda dizem que a sua reforma não é prioridade para a UFMT. Se uma sala de espetáculos não é prioridade para uma universidade o que é prioridade para ela? Eu queria entender isso. Os artistas estão com muita raiva dessa história. E com razão. E por essas e outras que esses jovens saem da faculdade do jeito que saem. Antigamente a universidade era como um pacote: a pessoa saía de lá não apenas preparada para o mercado de trabalho, mas também um consumidor e fazedor de arte e de cultura. Hoje saem de lá sem nunca terem assistido uma peça de teatro, sem saber o que é uma orquestra, sem nunca terem aberto um livro de poesia. De música só conhecem lambadão e pancadão. É por isso que o mundo está do jeito que está. E eu estou que estou: indignada!




A mesma UFMT que nos encheu de orgulho há quase 30 anos atrás, agora nos deixa envergonhados, indignados. Não é de hoje que o Teatro Universitário está sucateado. Os holofotes estão todos queimados, banheiros estragados, as almofadas precisando de conserto, as instalações elétricas, um bagaço. Diz que a parte elétrica está toda condenada, correndo risco de um curto circuito. Só tem gambiarra ali. Diz que não, isso é verdade, a minha fonte é segura.



Alguém tem que convencer ou sensibilizar aquele povo que a reforma do Teatro Universitário tem que ser sim prioridade. Se continuarem insensíveis, talvez o Ministério Público possa fazer algo, pois se continuar funcionando do jeito que está ainda pode acontecer uma catástrofe. Aí, sis criança, não ainda reclamar mais. Inês é morta. E incinerada!








Creonice Belém do Pará é prima em segundo grau de Ivan Belémrau de Ivan Belém.

Conceito sobre Teatro - Luiz Ribeiro


O teatro me fascina sobre vários aspectos: um deles é a capacidade de poder propor à sociedade a transformação de alguma coisa...




Ele oportuniza ao ator transgredir tudo que está ou foi pré-estabelecido pelos sistemas. Oferece,também, ao ator a possibilidade de desvestir a máscara padronizada que a sociedade consumista nos impõe cotidianamente, a mentira que somos, o engodo social que projetamos, a farsa política dos nossos governantes...




Sem esses aspectos, a meu ver, um espetáculo não se reveste da centelha de vida que deve possuir.




Por outro lado a obra teatral deve, também, impregnar o público de valores, de bons valores. O mundo está muito violento. O homem perdeu no redemoinho da violência a alma da sua solidariedade.




O egoísmo está se sobrepondo ao sentimento de solidariedade, de humanismo. O homem contemporâneo passou a ter repulsa e medo do seu próprio semelhante. O teatro tem o poder de reconciliar e solidarizar com o público. O teatro não pode ter preconceito de nada, muito menos o ator.




As pessoas de teatro, os artistas de um modo geral, a meu ver, são mais solidáriás, mais sensíveis, porque em nossa volta existe uma corrente de sensibilidade extraordinária, emanada do grande Circo Místico.




Na verdade, somos mais solidários sim, porque há milênios “somos expulsos das igrejas, das praças públicas, das cidades, das instituições culturais, dos cemitérios, e vamos nos reconciliar com os ciganos, os vagabundos, os poetas, os mendigos, as prostitutas, os viciados, os marginais, os homossexuais e lá nos reencontramos e nos solidarizamos como seres humanos”.




Ao finalizar um espetáculo teatral o artista se sente recompensado por ter contribuído para que o espectador se encontre consigo mesmo acocorado dentro de sua própria alma.

sábado, 26 de setembro de 2009

Adios, Gerald!




Gerald Thomas anunciou em seu blog que deixou os palcos, definitivamente. Está botando a culpa no iPhone e no iPod. Pode? Diz também que a culpa é de uma tal decadência de criatividade reinante nos dias atuais. Pra mim, Gerald está com “pobrema”. Desconfio que a falta de criatividade é única e exclusivamente dele e não da humanidade. Tem muita gente por aí criando coisas bacanas. (Quer dizer, “muita gente” é exagero da minha parte, mas vocês entenderam o que eu quero dizer, né?)




Pra quem não sabe quem é Gerald Thomas, irei avivar-lhes a memória: foi o tal cara que, em 1994, dirigiu Gal Costa e a botou em cena com os peitos de fora. Foi lamentável, uma malvadeza. Pra que fazer isso com a pobrezinha? Luiz Ribeiro quando viu a cena certamente deve ter comentado: “Ô sis crianças, não me deixem ficar assim, Se eu ficar assim vocês me internam? Prometem que me internam???”.









Mas Gal Costa é peituda mesmo. Lembram-se que, em uma eleição, apoiou ACM?! Não sei o que acontece, mas tem gente sensacional que, de repente, surta, às vezes até com rompantes fascistas. Marília Pêra, por exemplo. Musa de muitos, inclusive minha, pirou o cabeção e apoiou Fernando Collor. Até hoje tenho isso atravessado na garganta.

No caso de Gal Costa, não sei o que foi pior: mostrar os peitos caídaços ou apoiar Toninho Malvadeza. Vocês decidem!

Cuiabanada reunida


A festa de Nossa Senhora do Rosário começa neste domingo. É uma tradição que remonta ao surgimento do núcleo urbano, quando os escravizados construíram uma capela para ela, juntamente com São Benedito. José Barbosa de Sá, o nosso primeiro cronista, registra esse importante momento da religiosidade de nossa gente.




Em outros Estados brasileiros seus festejos são marcados pela Congada. Aqui em Cuiabá também foi assim. No entanto, essa dança dramática desapareceu na capital, permanecendo ainda hoje, não por acaso, em territórios negros, como o Quilombo de Mata Cavalo e o município de Vila Bela da Santíssima Trindade.




No lançamento oficial da festa, sexta-feira à noite, no Hotel Fazenda Mato Grosso, eu esperava me fartar de comidas tipicamente mato-grossenses, mas não me decepcionei com as opções de massas. Tinha um risoto também, que estava uma coisa. Enfim, foi uma noite agradabilíssima, com música ao vivo e uma canja de Caçula do Pandeiro, acompanhado pelas crianças alunas suas. Belo trabalho social desse jovem artista, que reúne a garotada em sua própria casa para ensinar-lhes dança e música. O rei deste ano, Benedito Rubens(na foto, comigo), recepcionou a todos com a alegria e a hospitalidade peculiares à gente cuiabana. Foi ótimo estar entre os meus.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Hoje é dia de festa

O título me fez lembrar uma música se não me engano da autoria de Arnaldo Antunes, na voz de Elza Soares. Está naquele CD “Do cox ao pescoço”. Conhecem? É um dos melhores da carreira dela. Me-mo-rá-vel!!!

E é nesse clima de festa que estou neste momento. Primeiro por ser sexta-feira. Amo as sextas-feiras. E pensar que à noite eu dou aulas: antropologia, para estudantes de Direito. Nunca me passou pela cabeça trabalhar com pessoal de Direito, mas está sendo uma experiência bacana. Trabalhar sexta-feira até as 22h00min horas não quebra o clima festivo porque eu gosto de dar aulas. Melhor: gosto de trabalhar. Melhor ainda: gosto de ganhar dinheiro. E honestamente! ´

E por acaso hoje estréio o blog, um projeto antigo que o tumulto cotidiano foi protelando, protelando e, de repente, pimba, criei o blog! Simplesmente assim, sem grande planejamento. Aliás, sem planejamento algum. Estávamos, eu e Claudete Jaudy, em frente à tela do computador quando tive a idéia de acionar esse mecanismo que me possibilita estar aqui.

Legal que depois da aula irei à festa de Nossa Senhora do Rosário, no Hotel Fazenda Mato Grosso. Irei com Antonieta. Ela descolou os convites pra gente: 40 paus, uma baba! Estou contando as horas. Será um jantar, certamente com cardápio regional. Adoro a comida mato-grossense: Maria-izabel, farofa de banana, munjica de pintado...huuummm...

As celebrações à Nossa Senhora do Rosário herdamos dos negros de etnia banto. Aqui em Cuiabá, porém, esse caráter africano tornou-se praticamente invisível, ao passo que existe em outras regiões do país um movimento ressaltando essa especificidade cultural. Quem sabe esse movimento não chega por aqui?

Aproveitando esse clima festivo de estréia, publicarei logo abaixo um texto sobre festas religiosas cuiabanas, feito para a Secretaria Municipal de Cultura já há alguns anos, na gestão de Glorinha Albuês.

À propósito, a imagem que abre este blog é da autoria de Vitória Basaia, feita especialmente pra mim quando completei 44 anos, não faz muito tempo assim. Sou eu, caracterizado como São Benedito, com destaque para o Terceiro Olho. Ficou massa, né? Grande Basaia!

Cuiabá, fé e festa

Festeiro por excelência, o povo cuiabano introduziu nas festas de santo todo um extenso repertório de "brincadeiras" ou "funções", que propiciam a diversão e o lazer da população, ao lado da motivação religiosa e devocional. Aqui se festeja, entre outros, São Benedito, Senhor Divino, São Gonçalo, São João, Santo Antônio e São Pedro. Os preparativos começam dias antes, meses até. E isso já é uma festa: comparecem vizinhos, parentes, compadres, enfim, uma porção de gente para “dar uma mão”. Mãos solidárias, mãos de fada. Transformam papel crepom em belas e coloridas flores e bandeirolas para o salão da festa e para os altares. Preparam pratos e licores de dar água na boca aos paladares mais exigentes. Dominam a técnica de trançar as palhas de coqueiro que cobrirão o "empalizado" para o baile e a reza. Mãos que tocam viola e rufam o bombo.

Até os santos ajudam... E ai deles se não ajudarem! Mulheres solteiras beliscam os pés de Santo Antônio até conseguirem um marido. Caso não funcione, colocam-no de cabeça para baixo. Se também não funcionar, estamos diante de uma moça encalhada. O problema é grave, mas não impossível. Pelo menos para São Gonçalo. Comemorado em janeiro, São Gonçalo é considerado o casamenteiro das velhas:

“São Gonçalo do Amarante
Casamenteiro das velhas
Porque não fez casar moça
Que mal fizeram elas? “

Como vêem, não é fácil ser santo em Cuiabá. São João que o diga! Cabe a ele responder se a pessoa sobreviverá mais um ano. Diz o povo que no momento da lavagem do santo, se você se mirar na água e nela não vir refletida a sua imagem, é certo que não estará vivo para festejar São João no ano seguinte.

Mas calma, milagres é com São Benedito e Senhor Divino. Basta ter fé. Celebrado em maio, o Senhor Divino é representado por uma linda pomba branca, símbolo da paz. Os pães do Senhor Divino, distribuídos durante a coleta de esmolas, de casa em casa, são considerados bentos. Ninguém os come. São guardados para os casos de doenças, quando então rala-se o pão e faz-se um chá. Levanta até defunto, dizem.

E como fé não falta ao povo cuiabano, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito vive repleta de fiéis às terças-feiras, dia da missa ao Santo Negro, que aqui chegou com os escravizados e até hoje é reverenciado. A sua festa acontece mês de julho e é uma das maiores festas do calendário religioso de Cuiabá.

Cuiabá é fé e festa. Impossível ficar indiferente a tanta devoção e alegria. Prova disso é que nem os santos resistem e caem na dança!