sábado, 28 de novembro de 2009

Tem Gato no Saco - by Luiz Carlos Ribeiro





No dia 15 de novembro último domingo, o Grupo Alma de Gato brindou o seu público no teatro do SESC Arsenal, com duas sessões, ingressos esgotados, com o espetáculo intitulado: Tem Gato no Saco.

Grupo musical formado por vozes masculinas, criado em 2005, cantam uma capela, e, ano após ano, só não aprimoram na técnica vocal, como também nas performances cênicas em seus espetáculos dando a estes um toque de humor, irreverência e qualidade artística das melhores nenhum gênero.

Exigente na escolha de um repertório, que prima pelo refinamento e pelo bom gosto das músicas escolhidas e pela afinação do espetáculo como um todo, o grupo vem formando e conquistando um publico que acompanha, fascinado, a sua trajetória.

Tem Gato no Saco da Mediocridade nos redime, do ridículo, da inversão de valores artísticos, que Mergulha este país, com aquiescência e Estimulo, é claro, da mídia nacional, dos órgãos oficiais e não oficiais, que usam das verbas públicas e privadas para outros fins, ou patrocínios de trabalhos de qualidade duvidosa.

Torna-se propício, neste momento, parafrasear o humorista Jô Soares, que num dos seus programas humorísticos disse o seguinte: "A cultura deste pais bunda pra subiu e desceu para os pés", ou seja, se você não é jogador de futebol ou não mostrar a bunda siliconada na televisão, você não tem vez em nosso cenário artístico.

Mas graça ao talento artístico deste grupo, os seus integrantes não PRECISAM usar destes subterfúgios para terem o respeito eo aplauso dos seus admiradores. São dotados, e como (!) Do mais puro talento / arte, Contraponto fulminante à mediocridade televisiva e folclorizada da nossa mídia nacional.

Na direção do espetáculo encontramos dois mestres, integrantes do naipe de vozes que compõe o octeto. Assina a direção artística e regência, o maestro Jefferson Neves, enquanto que uma direção cênica e roteiro ficam sob uma responsabilidade do artista multimídia Gilberto Nasser, o Gil.

Emolduram uma cena, com suas potentes vozes masculinas, formada por tenores, barítono e baixo: Sidnei Nogueira, Nicolas Rosato, Marcos Ardevino, Jefferson Valle, Evaldo Sampaio Jr, Renato Marçal Jefferson Neves e Gilberto Nasser, que completa o octeto.

A interferência performática dos esquetes encenada tem como tônica uma irreverência, que satirizam o comportamento, o modus vivendi de uma sociedade mergulhada medo nenhum do seu próprio niilismo.

Essas ações performáticas aproximam do gênero vaudeville meio usada pelos Circos que nos visitavam até meados da década de 70, com verossimilhança da reeditoração burlesco de um gênero popular, ...

Linguagem e do nosso Teatro Circo, tão bem reeditado pelo saudoso mestre do teatro e do cinema brasileiro Carlos Alberto Sofredini - leia-se "Hoje é Dia de Maria" - costura o tiro certeiro, ou seja, o riso solto, franco, sem final de cada frase do texto interpretado, testado copiosamente.

O resultado são os aplausos espontâneos da platéia. É a gloria do palhaço!

O tratamento corporal e gestual dos atores / cantores em cena é repleto de significados / significantes, esculpidos nos métodos da arte de representar, criados pelos mestres: Augusto Boal, Viola Spolin e outros, onde se percebe nitidamente uma triangulação entre atores / platéia, esta O vértice da pirâmide.

A metamorfose dos atores / cantores em cena acontece, Através de códigos, posturas gestuais, sem Necessidade de recorrer uma artifícios de adereços e / ou objetos cênicos para composição das personagens da ânima; São Atores em Metamorfoses, sem precisar recorrer uma das clichês ou estereótipos televisadas escolinhas.

No inicio do espetáculo, tem-se uma impressão de uma cantata, com uma execução do primeiro número musical Agnus Dei, de Michael W. Smith, arranjos de Jefferson Neves / Gilberto Nasser; mas não, é apenas um pré texto para uma seqüência de performances teatrais, um exemplo, um desobesessão, interpretada por Gilberto Nasser, Renato Marçal e Evaldo Sampaio, que parodiam as representações dos pastores burlescas / impostores, das igrejas "Universais da Cosmogonia Sideral do Renascer", a CAIXA II da Pilantragem, e dinheiro dos Recolhidos Pobres dos Dízimos, Incautos, Fiéis e assíduos. Hilariante!

Bem, a partir daí uma Reverência é totalmente abolida para dar entrada em cena uma irreverência. Não uma baixaria tão em voga na cena mato-grossense - (e nacional), mas o absurdo, (enquanto gênero cênico), aliado ao bom gosto musical. Um verdadeiro intermezzo, compartilhado entre os textos e as músicas cantadas pelo grupo.

A partir daí, os gatos e gatões da cena Tomam conta: cantam, dançam, interpretam e textos transformam o espetáculo, como um todo, numa verdadeira carnavalização baketiana, anárquica, absurda, porem de estremo bom gosto. Um primor!

A prova dessa competência fica explicita com o tratamento que dão ao repertório trash, brega. É prato cheio para o deboche, uma paródia, uma sátira irreverente dos atores / cantores que usam os códigos e posturas Próprios sígnicas e gestuais, Criadas pelos autores dessas "irrelevantes" peças musicais, e que, servem de matéria prima para uma reeditoração cênica -- musical dos integrantes do grupo.

Complementa o visual descolado um figurino, criado por Renato Marçal e Mara Domingos, que, a meu ver, foram buscar inspiração nas plumagens de coloração cinza ardósia do Pássaro Alma-de - Gato para composição das matizes do figurino do elenco.

Este bonito figurino atemporal, leve, suavemente colorido, tudo nos conformes, que nos lembra os palácios pijamas, usados nos anos 70/80, pelas divas do cinema italiano: La Loren, Silvana Mangano, Rosana Podestá, Ivone Di Carlo, esta última , minha prima adotiva.

Tudo isso valorizado por um cenário e uma iluminação rebuscada de muito bom gosto estético. Prova absoluta da competência profissional dos integrantes do grupo e dos profissionais e técnicos que lhe proporciona assessoria.

Apenas uma ressalva: vi, ouvi, Aplaudi todos os gatos, mas não vi nenhum saco.

* Revisão de texto: Lúcia Palma


PS: A foto Ivan roubou do Orkut do Gilberto

Ganhamos um espaço cultural



Dentre as inúmeras iniciativas em celebração ao Dia Nacional da Cultura, uma delas sem dúvida foi especial para Mato Grosso: a inauguração, pelo TCE, do Espaço Cultural Liu Arruda, uma merecida homenagem ao polêmico humorista. Foi uma noite linda e emocionante, repleta de artistas no palco. Eu interpretei um lindo texto do Gilberto Nasser, que tomo a liberdade de publicar aqui.



“O artista é um iluminado por natureza. Por isso, quando ele parte, vira luz no firmamento e o seu brilho é eterno. Sua herança não é o dinheiro, mas a sua própria obra de vida. Em vida, a função do artista é sensibilizar. Limitado pelas paredes do teatro, o artista transcende e faz desta caixa mágica um mundo sem limites, onde ele conta história, vive vidas e morre um pouco por cada personagem. Não é o artista que sonha. Ele faz o público sonhar. O artista alimenta o espírito humano e trabalha ao extremo as nossas sensações. O grande barato do artista é impressionar. Por isso o espetáculo não acontece sozinho. O artista precisa do sonho do público para tornar sua obra realidade. Essa relação entre palco e platéia é apaixonante e mais poderosa e explosiva que a força nuclear de um átomo. A arte é testemunha da evolução humana e a humanidade, através da arte, vai contando sua história. Liu Arruda foi testemunha de um tempo curto e precioso da nossa gente. Liu fez história e revolução. Seu talento foi suficiente para vencer as barreiras regionais e conquistar o Brasil, mas ele preferiu ficar aqui e ser o astro na sua própria terra. Hoje, encantado como todo ser de luz, ele deve estar de camarote, lá em cima, espiando a gente. E deve estar dizendo: - Puta que pariu, São Pedro! Olha só o que eu estou perdendo lá em baixo. E São Pedro, com a barba arrepiada, deve ter dito: - Seu Liu Arruda, aqui em cima não pode falar palavrão. No que Liu deve ter retrucado com o santo: - Agora o que é que é esse, São Pedro?! E desde quando que ‘puta que pariu’ é palavrão? São três palavrinhas tão pequenininhas: “puta”, “que” e “pariu”... Tão pequenininhas! Palavrão, São Pedro, o senhor precisa ir, lá em baixo, pra ver: miséria, violência, injustiça, sacanagem. Isso sim é que é palavrão. Na frente dessas coisas, ‘puta que pariu é refresco’, como dizia minha comadre Nhára e meu compadre Juca. Como não! E por falar nisso, espia ela chegando refestelada com a turma toda...”

Um cantinho cuiabano em Sinop



Estive poucas e inesquecíveis vezes no norte de Mato Grosso. Fui à Juína uma vez, gravar uma pequena participação num filme de Hermano Penna. Viagem longa, tensa, num avião de pequeno porte, que sacolejava indescritivelmente. Voltei pra casa, lembro-me bem, com o coração na mão, num dia 21 de março, data de meu aniversário. Enquanto olhava aquela imensidão de mata com o avião sacolejando, pedia aos deuses e às deusas pra não deixar-me morrer no dia do meu aniversário. E muito menos ter o meu corpo atirado àquela imensidão de floresta. Percebi que, se isso ocorresse, jamais localizariam meus restos mortais. Felizmente, como vêem, cheguei com vida.


Da outra vez, fui à Alta Floresta, com Liu Arruda, apresentar um espetáculo. Bati os pés e fui de ônibus. “Seguro morreu de velho”. Meu medo era acontecer comigo o que aconteceu com Leila Diniz. Uma diferença, sutil diga-se, era que ela estava a caminho das Índias e eu de Alta Floresta. No entanto, corri outro risco: chegando ao hotel (lindo, ao redor de uma vasta e misteriosa mata), avisto da janela do quarto um macaco. Comentei com um dos funcionários e este me alertou que recentemente um deles pegou uma faca e correu atrás de um hóspede. Pronto, tranquei tudo e só saí depois que nossa equipe chegou.


Lá se vão doze anos. Retornei no último dia 02 de outubro, quando fizemos (eu e Antonieta Costa) uma apresentação na “Peixaria Boipá”, de Gleison Figueiredo. Fomos por via terrestre, naturalmente!


Gleison Figueiredo, pra quem não sabe, é um cuiabano apaixonado por Cuiabá. Atualmente morando em Sinop, abriu esse restaurante que é um delicioso cantinho cuiabano nesse imenso nortão mato-grossense.