terça-feira, 29 de setembro de 2009

Síndrome de Coisa Ruim - by Comadre Creonice




Vou falar uma coisa procês: eu posso não ser entendida de pintura como minha comadre Aline Figueiredo... Essa sim é digoreste, entende pra catiça desses negócios. Mas também não sou igual aquela mulher que uma vez procurou Gervane de Paula e queria um quadro que combinasse com o sofá dela. Não sou dessas, não. Sou daquelas... Êah, mas porque mesmo estou falando disso? Ah, sim, é por estar pasma com a malvadeza feita à Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, no Museu do Louvre, em Paris. Vocês souberam? Uma turista russa jogou uma caneca de cerâmica contra a pobrezinha. Felizmente a velhinha não sofreu nenhum dano, pois está protegida por um vidro à prova de bala. Só assim pra Siá Gioconda, como ela é apelidada, agüentar o tranco. Ela é uma velha muito velha, tem quase a idade do Brasil. Da Vinci começou a pintá-la em 1503 e foi terminar por volta de dois anos depois. E ela sempre com o mesmo sorriso... Não perdeu nenhum dente até hoje.


A turista que fez a malvadeza deve ser rica, pois não foi considerada vândala. Chamaram o médico e, segundo ele, a criminosa deve estar com uma tal de Síndrome de Sthendal, doença rara que faz com que algumas pessoas fiquem gira de uma hora pra outra e ataquem obras de arte. Quá, cada doença que aparece!


Já ando preocupada com o surgimento de tanta doençaiada, e agora mais essa... Isso me deixa preocupada com algumas pessoas de Cuiabá, entre elas amigos meus, que mais se parecem uma obra de arte ambulante. Vai que encontram algum Sthendal por aí... Cruz credo!E olha, sis crianças, podem tirar seus cavalos da chuva, pois não vou citar nome de seu ninguém. Vocês sabem muito bem de quem estou falando... Raciocinem comigo – opa, comigo não! Raciocinem sozinhos. Vocês têm cabeça pra quê?


A russa diz que tem Síndrome de Sthendal, por isso quis danificar Siá Mona Lisa, mas e quem sai por aí dando veneno para os pombos da Praça Alencastro... Esses têm o quê, Síndrome de Coisa Ruim??? Isso dá cadeia! Os motoristas de táxi já não agüentam mais recolher pombos mortos todos os dias. Se estão incomodados com os bichinhos, chamem as autoridades. Ou nesta cidade não tem autoridade?

Estou aqui defendendo Siá Mona Lisa e os pombos da Praça Alencastro e já ia me esquecendo de defender Cuiabá. Nossa cidade também é outra vítima de ataques absurdos, principalmente na Internet. Esses dias me falaram que tem um site detonando Cuiabá e os cuiabanos. Entrei lá pra ver e quase tive um siricotico. Cada piada de mal gosto... Até uma amiga minha entrou na dança, coitada... Nem me lembro o nome do site, não adianta me cutucar. Sei que segue a linha do tal de Wikipédia: qualquer um chega e vai escrevendo o que quer e anonimamente. É uma versão anarquista, me disseram. Ruuummm...Anarquista, meu cesso! Vou fazer que nem aquela candidata a deputada, falando para os adversários: “Querem meter pau? Metam pela frente, cambada de veaaaaaadoooooo”!

Creonice Belém do Pará se deu muito mal como produtora de soja e, à falta de melhores opções, resolveu ser cronista e atriz, seguindo os passos de Ivan Belém, seu primo em segundo grau.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Teatro da UFMT: ai, que vergonha - by Creonice Belém do Pará



Eu me lembro como se fosse hoje, o dia da inauguração do Teatro Universitário. Tem quase 30 anos. A estréia foi com pompa e circunstância. O povo todo chique. Eu também fui chique, não sou besta. Foi até Gigliolla, do Salão Sol Vermelho, que me maquiou e fez meu penteado. Eu fui com um vestido de tafetá abobora, feito por dona Sônia Gama. Lindo. A estréia foi com a peça Manucaima, de Antunes Filho. Primeira vez que vi teatro com gente de fora. Até então eu só via teatro com povo daqui: Luiz Ribeiro, Glorinha Albuês, Amaury Tangará, Meire Pedroso, Mara Ferraz, Liu Arruda, Ivan Belém, Epifânia Arruda. Eu gostava (aliás, ainda gosto) de ver o teatro deles, mas eles não tiram a roupa. Só Meire Pedroso que uma vez tirou a roupa em cena. Ah, mas o que quero eu ver mulher nua? Em Macunaíma o povo todo ficava nu.




Tônia Carreiro também veio. Ela pode não ser lá muito talentosa, mas que é bem bonita, ah isso ela é. Ou era né?. Porque isso já tem quase 30 anos e essa mulher sumiu. Acho que está fazendo igual Greta Garbo: não sai mais de casa depois que ficou velha de vez. Mas, verdade seja dita, ela falou bonito na noite de inauguração: elogiou a UFMT pela iniciativa de construir um teatro e criticou as universidades brasileiras, sempre frias e insensíveis à cultura.




Eu sei dizer que por muito tempo o Teatro Universitário foi nosso motivo de orgulho. E era um orgulho não somente para nós mato-grossenses, mas para todo o Brasil. Os cuiabanos, então, ficavam bem tocêra... Mas vocês sabem: alegria de pobre dura pouco. Com o tempo, só vinham peças porcarias, entulho, que ninguém no Rio de Janeiro e em São Paulo queria ver. Os bestas iam todos aplaudir. Cambada de bobó tchera-tchera. Os tais artistas saíam com o bolso cheio de dinheiro e rindo da nossa cara. Isso quando havia peça de teatro, porque a agenda de lá estava sempre lotada com formatura, palestra, seminário, congresso, diplomação de políticos, assembléia de sindicatos e o escambau. Menos com teatro.




E ainda dizem que a sua reforma não é prioridade para a UFMT. Se uma sala de espetáculos não é prioridade para uma universidade o que é prioridade para ela? Eu queria entender isso. Os artistas estão com muita raiva dessa história. E com razão. E por essas e outras que esses jovens saem da faculdade do jeito que saem. Antigamente a universidade era como um pacote: a pessoa saía de lá não apenas preparada para o mercado de trabalho, mas também um consumidor e fazedor de arte e de cultura. Hoje saem de lá sem nunca terem assistido uma peça de teatro, sem saber o que é uma orquestra, sem nunca terem aberto um livro de poesia. De música só conhecem lambadão e pancadão. É por isso que o mundo está do jeito que está. E eu estou que estou: indignada!




A mesma UFMT que nos encheu de orgulho há quase 30 anos atrás, agora nos deixa envergonhados, indignados. Não é de hoje que o Teatro Universitário está sucateado. Os holofotes estão todos queimados, banheiros estragados, as almofadas precisando de conserto, as instalações elétricas, um bagaço. Diz que a parte elétrica está toda condenada, correndo risco de um curto circuito. Só tem gambiarra ali. Diz que não, isso é verdade, a minha fonte é segura.



Alguém tem que convencer ou sensibilizar aquele povo que a reforma do Teatro Universitário tem que ser sim prioridade. Se continuarem insensíveis, talvez o Ministério Público possa fazer algo, pois se continuar funcionando do jeito que está ainda pode acontecer uma catástrofe. Aí, sis criança, não ainda reclamar mais. Inês é morta. E incinerada!








Creonice Belém do Pará é prima em segundo grau de Ivan Belémrau de Ivan Belém.

Conceito sobre Teatro - Luiz Ribeiro


O teatro me fascina sobre vários aspectos: um deles é a capacidade de poder propor à sociedade a transformação de alguma coisa...




Ele oportuniza ao ator transgredir tudo que está ou foi pré-estabelecido pelos sistemas. Oferece,também, ao ator a possibilidade de desvestir a máscara padronizada que a sociedade consumista nos impõe cotidianamente, a mentira que somos, o engodo social que projetamos, a farsa política dos nossos governantes...




Sem esses aspectos, a meu ver, um espetáculo não se reveste da centelha de vida que deve possuir.




Por outro lado a obra teatral deve, também, impregnar o público de valores, de bons valores. O mundo está muito violento. O homem perdeu no redemoinho da violência a alma da sua solidariedade.




O egoísmo está se sobrepondo ao sentimento de solidariedade, de humanismo. O homem contemporâneo passou a ter repulsa e medo do seu próprio semelhante. O teatro tem o poder de reconciliar e solidarizar com o público. O teatro não pode ter preconceito de nada, muito menos o ator.




As pessoas de teatro, os artistas de um modo geral, a meu ver, são mais solidáriás, mais sensíveis, porque em nossa volta existe uma corrente de sensibilidade extraordinária, emanada do grande Circo Místico.




Na verdade, somos mais solidários sim, porque há milênios “somos expulsos das igrejas, das praças públicas, das cidades, das instituições culturais, dos cemitérios, e vamos nos reconciliar com os ciganos, os vagabundos, os poetas, os mendigos, as prostitutas, os viciados, os marginais, os homossexuais e lá nos reencontramos e nos solidarizamos como seres humanos”.




Ao finalizar um espetáculo teatral o artista se sente recompensado por ter contribuído para que o espectador se encontre consigo mesmo acocorado dentro de sua própria alma.

sábado, 26 de setembro de 2009

Adios, Gerald!




Gerald Thomas anunciou em seu blog que deixou os palcos, definitivamente. Está botando a culpa no iPhone e no iPod. Pode? Diz também que a culpa é de uma tal decadência de criatividade reinante nos dias atuais. Pra mim, Gerald está com “pobrema”. Desconfio que a falta de criatividade é única e exclusivamente dele e não da humanidade. Tem muita gente por aí criando coisas bacanas. (Quer dizer, “muita gente” é exagero da minha parte, mas vocês entenderam o que eu quero dizer, né?)




Pra quem não sabe quem é Gerald Thomas, irei avivar-lhes a memória: foi o tal cara que, em 1994, dirigiu Gal Costa e a botou em cena com os peitos de fora. Foi lamentável, uma malvadeza. Pra que fazer isso com a pobrezinha? Luiz Ribeiro quando viu a cena certamente deve ter comentado: “Ô sis crianças, não me deixem ficar assim, Se eu ficar assim vocês me internam? Prometem que me internam???”.









Mas Gal Costa é peituda mesmo. Lembram-se que, em uma eleição, apoiou ACM?! Não sei o que acontece, mas tem gente sensacional que, de repente, surta, às vezes até com rompantes fascistas. Marília Pêra, por exemplo. Musa de muitos, inclusive minha, pirou o cabeção e apoiou Fernando Collor. Até hoje tenho isso atravessado na garganta.

No caso de Gal Costa, não sei o que foi pior: mostrar os peitos caídaços ou apoiar Toninho Malvadeza. Vocês decidem!

Cuiabanada reunida


A festa de Nossa Senhora do Rosário começa neste domingo. É uma tradição que remonta ao surgimento do núcleo urbano, quando os escravizados construíram uma capela para ela, juntamente com São Benedito. José Barbosa de Sá, o nosso primeiro cronista, registra esse importante momento da religiosidade de nossa gente.




Em outros Estados brasileiros seus festejos são marcados pela Congada. Aqui em Cuiabá também foi assim. No entanto, essa dança dramática desapareceu na capital, permanecendo ainda hoje, não por acaso, em territórios negros, como o Quilombo de Mata Cavalo e o município de Vila Bela da Santíssima Trindade.




No lançamento oficial da festa, sexta-feira à noite, no Hotel Fazenda Mato Grosso, eu esperava me fartar de comidas tipicamente mato-grossenses, mas não me decepcionei com as opções de massas. Tinha um risoto também, que estava uma coisa. Enfim, foi uma noite agradabilíssima, com música ao vivo e uma canja de Caçula do Pandeiro, acompanhado pelas crianças alunas suas. Belo trabalho social desse jovem artista, que reúne a garotada em sua própria casa para ensinar-lhes dança e música. O rei deste ano, Benedito Rubens(na foto, comigo), recepcionou a todos com a alegria e a hospitalidade peculiares à gente cuiabana. Foi ótimo estar entre os meus.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Hoje é dia de festa

O título me fez lembrar uma música se não me engano da autoria de Arnaldo Antunes, na voz de Elza Soares. Está naquele CD “Do cox ao pescoço”. Conhecem? É um dos melhores da carreira dela. Me-mo-rá-vel!!!

E é nesse clima de festa que estou neste momento. Primeiro por ser sexta-feira. Amo as sextas-feiras. E pensar que à noite eu dou aulas: antropologia, para estudantes de Direito. Nunca me passou pela cabeça trabalhar com pessoal de Direito, mas está sendo uma experiência bacana. Trabalhar sexta-feira até as 22h00min horas não quebra o clima festivo porque eu gosto de dar aulas. Melhor: gosto de trabalhar. Melhor ainda: gosto de ganhar dinheiro. E honestamente! ´

E por acaso hoje estréio o blog, um projeto antigo que o tumulto cotidiano foi protelando, protelando e, de repente, pimba, criei o blog! Simplesmente assim, sem grande planejamento. Aliás, sem planejamento algum. Estávamos, eu e Claudete Jaudy, em frente à tela do computador quando tive a idéia de acionar esse mecanismo que me possibilita estar aqui.

Legal que depois da aula irei à festa de Nossa Senhora do Rosário, no Hotel Fazenda Mato Grosso. Irei com Antonieta. Ela descolou os convites pra gente: 40 paus, uma baba! Estou contando as horas. Será um jantar, certamente com cardápio regional. Adoro a comida mato-grossense: Maria-izabel, farofa de banana, munjica de pintado...huuummm...

As celebrações à Nossa Senhora do Rosário herdamos dos negros de etnia banto. Aqui em Cuiabá, porém, esse caráter africano tornou-se praticamente invisível, ao passo que existe em outras regiões do país um movimento ressaltando essa especificidade cultural. Quem sabe esse movimento não chega por aqui?

Aproveitando esse clima festivo de estréia, publicarei logo abaixo um texto sobre festas religiosas cuiabanas, feito para a Secretaria Municipal de Cultura já há alguns anos, na gestão de Glorinha Albuês.

À propósito, a imagem que abre este blog é da autoria de Vitória Basaia, feita especialmente pra mim quando completei 44 anos, não faz muito tempo assim. Sou eu, caracterizado como São Benedito, com destaque para o Terceiro Olho. Ficou massa, né? Grande Basaia!

Cuiabá, fé e festa

Festeiro por excelência, o povo cuiabano introduziu nas festas de santo todo um extenso repertório de "brincadeiras" ou "funções", que propiciam a diversão e o lazer da população, ao lado da motivação religiosa e devocional. Aqui se festeja, entre outros, São Benedito, Senhor Divino, São Gonçalo, São João, Santo Antônio e São Pedro. Os preparativos começam dias antes, meses até. E isso já é uma festa: comparecem vizinhos, parentes, compadres, enfim, uma porção de gente para “dar uma mão”. Mãos solidárias, mãos de fada. Transformam papel crepom em belas e coloridas flores e bandeirolas para o salão da festa e para os altares. Preparam pratos e licores de dar água na boca aos paladares mais exigentes. Dominam a técnica de trançar as palhas de coqueiro que cobrirão o "empalizado" para o baile e a reza. Mãos que tocam viola e rufam o bombo.

Até os santos ajudam... E ai deles se não ajudarem! Mulheres solteiras beliscam os pés de Santo Antônio até conseguirem um marido. Caso não funcione, colocam-no de cabeça para baixo. Se também não funcionar, estamos diante de uma moça encalhada. O problema é grave, mas não impossível. Pelo menos para São Gonçalo. Comemorado em janeiro, São Gonçalo é considerado o casamenteiro das velhas:

“São Gonçalo do Amarante
Casamenteiro das velhas
Porque não fez casar moça
Que mal fizeram elas? “

Como vêem, não é fácil ser santo em Cuiabá. São João que o diga! Cabe a ele responder se a pessoa sobreviverá mais um ano. Diz o povo que no momento da lavagem do santo, se você se mirar na água e nela não vir refletida a sua imagem, é certo que não estará vivo para festejar São João no ano seguinte.

Mas calma, milagres é com São Benedito e Senhor Divino. Basta ter fé. Celebrado em maio, o Senhor Divino é representado por uma linda pomba branca, símbolo da paz. Os pães do Senhor Divino, distribuídos durante a coleta de esmolas, de casa em casa, são considerados bentos. Ninguém os come. São guardados para os casos de doenças, quando então rala-se o pão e faz-se um chá. Levanta até defunto, dizem.

E como fé não falta ao povo cuiabano, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito vive repleta de fiéis às terças-feiras, dia da missa ao Santo Negro, que aqui chegou com os escravizados e até hoje é reverenciado. A sua festa acontece mês de julho e é uma das maiores festas do calendário religioso de Cuiabá.

Cuiabá é fé e festa. Impossível ficar indiferente a tanta devoção e alegria. Prova disso é que nem os santos resistem e caem na dança!