segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Teatro da UFMT: ai, que vergonha - by Creonice Belém do Pará



Eu me lembro como se fosse hoje, o dia da inauguração do Teatro Universitário. Tem quase 30 anos. A estréia foi com pompa e circunstância. O povo todo chique. Eu também fui chique, não sou besta. Foi até Gigliolla, do Salão Sol Vermelho, que me maquiou e fez meu penteado. Eu fui com um vestido de tafetá abobora, feito por dona Sônia Gama. Lindo. A estréia foi com a peça Manucaima, de Antunes Filho. Primeira vez que vi teatro com gente de fora. Até então eu só via teatro com povo daqui: Luiz Ribeiro, Glorinha Albuês, Amaury Tangará, Meire Pedroso, Mara Ferraz, Liu Arruda, Ivan Belém, Epifânia Arruda. Eu gostava (aliás, ainda gosto) de ver o teatro deles, mas eles não tiram a roupa. Só Meire Pedroso que uma vez tirou a roupa em cena. Ah, mas o que quero eu ver mulher nua? Em Macunaíma o povo todo ficava nu.




Tônia Carreiro também veio. Ela pode não ser lá muito talentosa, mas que é bem bonita, ah isso ela é. Ou era né?. Porque isso já tem quase 30 anos e essa mulher sumiu. Acho que está fazendo igual Greta Garbo: não sai mais de casa depois que ficou velha de vez. Mas, verdade seja dita, ela falou bonito na noite de inauguração: elogiou a UFMT pela iniciativa de construir um teatro e criticou as universidades brasileiras, sempre frias e insensíveis à cultura.




Eu sei dizer que por muito tempo o Teatro Universitário foi nosso motivo de orgulho. E era um orgulho não somente para nós mato-grossenses, mas para todo o Brasil. Os cuiabanos, então, ficavam bem tocêra... Mas vocês sabem: alegria de pobre dura pouco. Com o tempo, só vinham peças porcarias, entulho, que ninguém no Rio de Janeiro e em São Paulo queria ver. Os bestas iam todos aplaudir. Cambada de bobó tchera-tchera. Os tais artistas saíam com o bolso cheio de dinheiro e rindo da nossa cara. Isso quando havia peça de teatro, porque a agenda de lá estava sempre lotada com formatura, palestra, seminário, congresso, diplomação de políticos, assembléia de sindicatos e o escambau. Menos com teatro.




E ainda dizem que a sua reforma não é prioridade para a UFMT. Se uma sala de espetáculos não é prioridade para uma universidade o que é prioridade para ela? Eu queria entender isso. Os artistas estão com muita raiva dessa história. E com razão. E por essas e outras que esses jovens saem da faculdade do jeito que saem. Antigamente a universidade era como um pacote: a pessoa saía de lá não apenas preparada para o mercado de trabalho, mas também um consumidor e fazedor de arte e de cultura. Hoje saem de lá sem nunca terem assistido uma peça de teatro, sem saber o que é uma orquestra, sem nunca terem aberto um livro de poesia. De música só conhecem lambadão e pancadão. É por isso que o mundo está do jeito que está. E eu estou que estou: indignada!




A mesma UFMT que nos encheu de orgulho há quase 30 anos atrás, agora nos deixa envergonhados, indignados. Não é de hoje que o Teatro Universitário está sucateado. Os holofotes estão todos queimados, banheiros estragados, as almofadas precisando de conserto, as instalações elétricas, um bagaço. Diz que a parte elétrica está toda condenada, correndo risco de um curto circuito. Só tem gambiarra ali. Diz que não, isso é verdade, a minha fonte é segura.



Alguém tem que convencer ou sensibilizar aquele povo que a reforma do Teatro Universitário tem que ser sim prioridade. Se continuarem insensíveis, talvez o Ministério Público possa fazer algo, pois se continuar funcionando do jeito que está ainda pode acontecer uma catástrofe. Aí, sis criança, não ainda reclamar mais. Inês é morta. E incinerada!








Creonice Belém do Pará é prima em segundo grau de Ivan Belémrau de Ivan Belém.

Um comentário:

  1. excelente crítica! PARABÉNS
    acho que a reitoria deveria ler seu blog... vou indicá-la

    beijo
    *

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