quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

CARNAVAL E SIRIRI: A FESTA DE VARGINHA

A pacata comunidade de Varginha, zona rural de Santo Antônio do Leverger, agita-se durante o carnaval. É um carnaval diferente, realizado a partir de suas especificidades culturais. É feito, desde tempos remotos, à base siriri,a tradicional dança de Mato Grosso, com instrumentos típicos e rudimentares, como a viola-de-cocho, o mocho e o ganzá. O boi-à-serra é figura de destaque. À frente dois foliões empunhando as bandeiras. Uma é do bloco, naturalmente. A outra, creiam, é de Santa Gertrudes. A festa começa na sexta-feira e acontece o dia todo, estendendo-se noite à fora. Com a ajuda da comunidade, rola café da manhã, almoço e jantar. Cada um dá o que pode: um pacote arroz ou macarrão, frango, carne ou tempero. A comida é servida na casa dos festeiros. Este ano o rei foi José Carlos Carvalho, conhecido como “Bigode”; e a rainha sua irmã, Vergília Carvalho. Os foliões saem pela comunidade cantando e dançando, visitando as casas. Nessas horas as pessoas param com tudo para também se integrarem à festança. Faltando-me fôlego para acompanhar os foliões, dei uma pausa e parei em um pequeno bar da vila, para tomar um refrigerante e comer um pastel frito na hora. Não consegui comer o pastel. A dona do bar, muito gentilmente explicou-se que àquela hora seria impossível atender ao meu pedido. O pastel só sairia depois da passagem do bloco. Ela está coberta de razão. Inconveniente fui eu. Desculpa aí. Impossível ficar indiferente ao carnaval de Varginha. Homens, mulheres, crianças e jovens envolvem-se espontaneamente. Mas já foi muito maior esse envolvimento. João Gomes Siqueira, 60 anos, contou-me que, há trinta anos atrás, o cortejo contava com mais de três mil pessoas, vindas de toda a redondeza: Barreirinho, Morro Grande, Carandazinho, Pai André, Souza Lima... Chegavam no sábado e só iam embora na Quarta-feira de Cinzas. João lamenta-se que os jovens não aprenderam a tocar os instrumentos e nem se interessam pelos saberes e saber fazer para continuar com a tradição. Por isso, os tocadores que ali estavam vieram de Cuiabá. “Mesmo assim ta bonito”, disse-me, emocionado. Ao final da festa, todos iriam para a casa dos festeiros, onde iriam jantar e subir o mastro para a festa de Santa Gertrudes. Nesse momento seria anunciado também oficialmente os festeiros do próximo ano. Assumiu, assim, o posto de rei Miro Amorim; e o de rainha, dona Nenê. Miro já sabe que terá muito trabalho pela frente. Por exemplo, precisará de muita diplomacia para ajudar a comunidade a superar um dos principais obstáculos à preservação da comunidade, hoje dividida por questões partidárias. Explicando melhor: se os festeiros pertencem a um determinado partido, os que são de partidos opostos não participam da festa ou não se envolvem tanto quanto a festa merece. Outro obstáculo é envolver os jovens. Mas Miro não se desanima. Ele sabe que é preciso zelar pela herança cultural de seus antepassados.

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