quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A PRESENÇA NEGRA EM MATO GROSSO

Quando o Museu da Imagem e do Som de Cuiabá “Lázaro Papazian – Cháu” – MISC resolveu realizar esta Mostra, em parceria com o NEPRE – Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Relações Raciais e Educação, da UFMT, não teve a pretensão de contemplar toda a produção artística e cultural da comunidade negra mato-grossense, pois temos consciência de sua enorme abrangência e complexidade. Portanto, uma mostra apenas não daria conta de revelar todo um universo de matriz africana circulando por este imenso Brasil, apesar de constantemente negado por construções ideológicas racistas. Há, além disso, a dificuldade de se encontrar tais contribuições registradas ou catalogadas, consequência de um longo processo de negação e invisibilidade do qual os negros são historicamente vítimas.

Sob o discurso da universalidade, o processo civilizatório ocidental sempre ignorou a presença negra, seja em que esfera for, desprezando o seu patrimônio sociocultural, acumulado ao longo de gerações. Suas expressões culturais são tidas como exóticas e atrasadas. Esse é o olhar do colonizador europeu que, ainda hoje, persiste. E, assim, as escolas ensinam mitologia grega, mas não ensinam mitologia africana. Foi preciso a criação, em 2003, da Lei 10.639, para se começar um movimento de ensino da história e da cultura afro-brasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio. As elites brancas sempre criaram as políticas culturais neste país, definindo o que deve ser preservado ou não. E, diante disso, o negro sempre sobrou. Mesmo quando, mais tarde, essas elites incorporam as criações e influências negras, antes desprezadas e reprimidas, identificando-as como símbolos de uma supostamente única identidade mato-grossense, o negro desaparece, torna-se invisível.

São quase trezentos anos de presença africana em Mato Grosso e a herança desses homens e mulheres não pode ser esquecida nem tampouco reduzida à participação na vida econômica deste Estado, como mão de obra escravizada, o que equivale a dizer que esses povos são dotados apenas de força física e desprovidos de intelecto e de sentido estético. Ressaltar a contribuição negra à cultura mato-grossense é uma questão de ética e, sobretudo, de justiça, pois estamos diante de contribuições que perpassam a vida deste Estado em aspectos que vão desde a língua, a culinária, a música, a dança e a visualidade, contemplando ainda valores sociais e concepções religiosas. São experiências de gerações, repletas de sentidos e saberes.

Discordando desse modelo racista e homogeneizador, o MISC quer intervir ideologicamente reafirmando a África como matriz do mundo, oportunizando à população negra o direito de se expressar, o direito à diferença, sem que esta tenha uma conotação de desigualdade ou separatismo. Enfim, queremos contribuir para que a população negra tenha o seu direito ao sonho. (Ivan Belém - diretor do MISC)


MOSTRA “A PRESENÇA NEGRA EM MATO GROSSO”


DE 05 DE OUTUBRO A 05 DE NOVEMBRO

MUSEU DA IMAGEM E DO SOM DE CUIABÁ

Rua Voluntários da Pátria, Centro 3617-1288

2 comentários:

  1. muito lindo seu blog, amadinho
    cheio de incrementações bacanas, artísticas e essenciais

    beijãozão
    *

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  2. Obrigado, Mimi. Sou ainda um aprendiz de blogueiro, mas eu chego lá rsss
    Obrigado pela visita
    bjs

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